"VERDE E AMARELO" - BOM DE PAPO E DE CUCA: O ÁLBUM DE 1985

Capa do álbum de 1985

Já faz tempo que, como fã, defendo o álbum de 1985. Creio que como tenho preferência pelos discos tematicamente mais diversificados do cantor e gosto de ouvi-lo mais despojado e não tão preso a fórmulas de sucesso, esse álbum é um daqueles meus de cabeceira. Porém, como crítico informal eu reconheço que não há nele qualquer grande canção daquelas "canções do Roberto". Ponto. Em seguida. Não há, na verdade, uma grande letra daquelas mais elaboradas e surgidas de um estalo de genialidade de Roberto ou Erasmo, principalmente. A mais próxima disso, pra mim, é Paz Na Terra. Contudo, há grandes arranjos que revestem músicas, diria, medianas para cima. Nesse sentido, a crítica da época - mais entusiasmada com a geração do BRock - foi injusta com o o 25º álbum de Roberto Carlos, exercendo o seu já tradicional sacerdócio inquisitório de má vontade para com os discos do cantor. Dizia-se, em meados daquela década, que ele perdera folêgo criativo e caíra numa mesmice não arriscando mais qualquer inovação estética em sua música. 
Lançado oficialmente no dia 03 de dezembro de 1985, os fãs naturalmente não deram a mínima para os críticos e 2 milhões de consumidores afluíram às lojas a fim de comprarem 'o novo LP do Roberto'. A 'ufanista' Verde e Amarelo (diriam os de esquerda) explicitava a verve 'patriótica' do cantor - assim definiriam os de direita. Oportunismo comercial ou transpiração de um sincero patriota? Fato é que a temática do rock que vira samba no final nasceu das manifestações em prol das Diretas Já e isso contagiou Roberto. Tanto que ele e Erasmo usaram o termo "Brazuca" como substantivo sinônimo de "Brasil", quando se trata de um adjetivo - originalmente pejorativo - dado pelos portugueses aos brasileiros. Caetano Veloso na sua tentativa de legitimar o posicionamento político alheio - não era o caso de Roberto - ao ouvir a música com o termo no rádio, imaginou "Ai, meu Deus! Acho que vou me irritar". Ao ouvi-la na íntegra, acabou convencido da sinceridade de Roberto ao exaltar a nossa brasilidade. No dia de seu lançamento em 26 de novembro, o carro-chefe do novo álbum alcançou 3.577 execuções nas rádios brasileiras, entre 7 da manhã e 7 da noite. Batia, assim o recorde anterior de "Caminhoneiro" que obtivera 3.287 execuções. No entanto, nas rádios, sobretudo FMs, obteve um modestíssimo 50º lugar, sendo a única faixa a listar entre as 100 mais executadas em 1985. A força do pop internacional, as trilhas de novela e a eclosão do Rock Brasil eclipsaram as novas músicas do rei perante o público geral, principalmente perante a juventude. Ainda assim, na listagem da NOPEM* do ano de 1986, Roberto teve o 3º disco mais vendido entre os dois maiores mercados do Brasil: Rio de Janeiro e São Paulo.
Como disse, "Paz Na Terra" talvez seja a única faixa daquele disco a pelo menos esboçar "aquela canção do Roberto". Com a corrida armamentista protagonizada por Estados Unidos e União Soviética, o cantor sentiu-se instigado a falar mais uma vez de paz e fraternidade universal e até denunciar o que considerava "abusos da ciência". Com arranjo do americano Gene Page, recebeu um exuberante solo de sintetizador de Robbie Buchanan* já durante a mixagem no estúdio A & M, em Los Angeles - o que a meu ver, agigantou a canção.
Singela e muito bonita, De Coração Pra Coração, escrita a 4 mãos, recebeu uma segunda voz em 8ª acima de Roberto que antecipava, de certa forma, o sertanejo urbano-romântico da década de 1990. Tanto que foi regravada por Chitãozinho & Xororó no álbum "Nossas Canções Preferidas", de 1988.
Também com arranjo de Lincoln Olivetti, Só Vou Se Você For virou uma deliciosa balada tecnopop. Roberto não foi o personagem da canção. Ela foi inspirada a partir de uns versos da música Fim de Caso, de Dolores Duran (uma de suas grandes influências) nos quais ela canta "Nós já tivemos a nossa fase de carinho apaixonado/de fazer versos, de viver sempre abraçados/naquela base do só vou se você for...". É a temática do romance que desidratou. 
Já Contradições é a única da série sentimentalismo dor-de-cotovelo de Eduardo Lages e Paulo Sérgio Valle. Um quer e o outro faz de conta; um leva a relação a sério, o outro de qualquer jeito. Já o funk melody Você Na Minha Mente traz uma nuance de desamor um pouco diferente, já que o caso acabou e o eu lírico ainda está dando topada pensando na amada que o largou. Um dos 4 autores dessa faixa, o compositor Mauro Motta - e produtor desse disco e de quase todos de RC, a partir de 1984 - revelou a mim que o solo de sintetizador foi de Nico Rezende. Com seu faro Black music, Lincoln Olivetti revestiu a canção com um arranjo funkeado, mas nem ele, nem o próprio Mauro Motta, nem Robson Jorge, nem os roupanovistas Cleberson Horst e Ricardo Feghali conseguiam um solo que fosse a cereja do bolo da música. Aí foi Nico, tocou de primeira e 'barbarizou' nas palavras de Mauro.
Da Boca Pra Fora falava daquelas pequenas desavenças de casal que terminam na alcova. Foi uma das faixas de trabalho do disco, com direito a apresentação no Globo de Ouro. Tem um solo fabuloso de guitarra de Keith Mack dando uma timbragem pop-rock bastante descolada a uma balada romântica. 
Pelas Esquinas da Nossa Casa tem uma levada de samba-canção. Sua letra evoca a tão presente balada sexual nos discos de RC desde 1973. Foi composta não exatamente para a companheira do cantor, na época, Myrian Rios, mas a partir das experiências conjugais do casal. Um coro feminino bastante sensual formado pela futuramente famosa Rosana (mais tarde, Rosanah Fiengo) e pela hoje saudosa Claudia Telles, entre outras,  reforçava a ideia de sensualidade da faixa. 
Para reforçar ainda mais o bom momento conjugal e o despojamento de Roberto naquele disco, uma balada popular que originalmente foi composta para o álbum anterior. Era a bem-humorada Símbolo Sexual que por não ter ficado pronta ao gosto do perfeccionismo do cantor, foi concluída e lançada com um clipe no Especial de Natal que contou com a participação da então estonteante Luíza Brunet.
Encerrando a nossa dissecação das faixas do álbum de 1985, temos A Atriz, esta sim uma homenagem à Myrian Rios, ainda que revestida da temática do ciúme e da insegurança de RC ao vê-la atuar na TV. É a a faixa mais representativa do disco e a única a gerar comentários e especulações como a de que o cantor seria possessivo e machista. A própria homenageada rebateu as críticas contrargumentando que o ciúme era dela, pois a letra diz "O telefone toca, ela me chama/me lembra que me ama/aquela voz macia/diz que tem ciúme e quer saber/se nela eu pensei/durante todo o dia... ah...". Depois disso vem o solo de sax alto de Léo Gandelman. Há alguns anos atrás o ator Paulo Castelli, que vivia um par romântico com Myrian Rios na novela Ti-Ti-Ti, também desmentiu os boatos de que havia algo entre ele e sua colega de profissão. Hoje psicólogo, ele até reconhece os tais boatos, mas diz que já era casado então e tudo não passava de uma amizade. Conclui revelando que os quatro até saíam juntos para jantar depois das gravações.
Por fim, opino que o disco no seu conjunto foi muito bom, ainda que não tenha uma canção individualmente que tenha caído no gosto do público geral. É um dos discos de RC injustiçados pela crítica, que tem o mérito da regularidade e da tentativa do cantor de fazer algo diferente sem abandonar a coerência de ser Roberto Carlos em cada faixa.
Capa interna do LP
Lançado em 03 de dezembro de 1985
Gravado nos Estúdios Transamérica (Rio), Lincoln Olivetti (Rio), Multi (Rio), Sigla (Rio), A&M (Los Angeles) e Sigma Sound (Nova Iorque)
Transcrito para 48 canais: Estúdio Transamérica (São Paulo)
Mixado no Sigma Sound (Nova Iorque)
Produzido por Mauro Motta
Assistente de Produção: Carlos Pedro
Técnicos de Gravação:
- Estúdios Transamérica (Rio): Aníbal - Assistente: Niltinho
- Estúdios Lincoln Olivetti (Rio): Eduardo Costa - Assistente: Tico
- Multi Estúdios (Rio): Eduardo Costa - Assistentes: Antônio, Carlos, Denílson e Alberto Lamounier
- Sigla (Rio): Edu de Oliveira - Assistentes: Beto Vaz, Billy, Marcos, Caminha, César, Julinho, Jackson e Marcelo
- A&M Studios (Los Angeles): Rick Ruggieri - Assistente: Magic Moreno
- Estúdios Transamérica (São Paulo): Reinaldo, Roberto Marques e Guilherme - Assistentes: Ricardo, Carlos Guedes, Fernando e Walter
Técnicos de Mixagem: Tim Geelan e Glen Kolotkin
Assistentes de Mixagem: Fernando Kral, Nick Deire, Don Peter Kofsky e Mark Roule
Corte: Élio Gomes e Manoel Magalhães
Fotos: Não creditadas
Vendagem: 1.300.000 cópias (tiragem inicial) - 2.000.000 de cópias (vendagem final)
Contracapa do LP

                                     CANÇÕES DE "ROBERTO CARLOS" (1985)
1- Verde e Amarelo (Roberto Carlos-Erasmo Carlos) – Rock/Samba (maior sucesso do disco)
Arranjo: Charlie Calello/Direção de Base e Regência: Cleberson Horsth/Participação especial do Coral da Universidade de Santa Ursula (EUA) sob a regência do maestro Marcelo Bussiki - Gravada em 10 e 14 de setembro de 1985
2- De Coração Pra Coração (Mauro Motta-Robson Jorge-Lincoln Olivetti-Isolda) – Balada romântica 
Arranjo: Lincoln Olivetti - Gravada em 07 de agosto de 1985
3- Só Vou Se Você For (Roberto Carlos-Erasmo Carlos) – Tecnopop
Arranjo: Lincoln Olivetti/Arranjo de cordas: Eduardo Lages - Gravada em 22 de julho e 09 de outubro de 1985
4- Paz Na Terra (Roberto Carlos-Erasmo Carlos) – Mensagem pacifista
Arranjo: Gene Page - Gravada entre 12 e 14 de setembro e entre 02 e 04 de novembro de 1985
5- Contradições (Eduardo Lages-Paulo Sérgio Valle) – Balada romântica
Arranjo: Eduardo Lages - Gravada em 06 e 14 de agosto de 1985
6- Pelas Esquinas da Nossa Casa (Roberto Carlos-Erasmo Carlos) – Balada sexual/Samba-Canção
Arranjo: Lincoln Olivetti - Gravada em 10 de novembro de 1985
7- Símbolo Sexual (Roberto Carlos-Erasmo Carlos) – Balada popular
Arranjo: Lincoln Olivetti - Gravada entre 20 e 21 de setembro de 1984 e entre 29 e 30 de julho de 1985
8- A Atriz (Roberto Carlos-Erasmo Carlos) – Balada Romântica
Arranjo: Lincoln Olivetti - Gravada em 31 de julho, 05 de agosto e 03 de novembro de 1985
9- Você Na Minha Mente (Mauro Motta-Robson Jorge-Lincoln Olivetti-Carlos Colla) – Funk Melody - Gravada em 09 de setembro e e em 04 de outubro de 1985
Arranjo: Lincoln Olivetti/Arranjo de Cordas: Charlie Calello
10- Da Boca Pra Fora (Maurício Duboc-Carlos Colla) – Balada Romântica
Arranjo: Eduardo Lages - Gravada em 20 de setembro e em 06 de novembro de 1985
Músicas apresentadas no Especial de Natal exibido em 27 de dezembro de 1985:
A Atriz (clipe com a participação de Myrian Rios)
Paz Na Terra (clipe)
Símbolo Sexual (clipe com a participação da modelo Luíza Brunet)
Verde e Amarelo (cantada ao vivo no palco do Maracanãzinho e no Clip do Fantástico)
*NOPEM é um acrônimo para Nelson Oliveira Pesquisa e Mercado, instituto que faz um levantamento de discos vendidos e canções mais tocadas no eixo Rio-São Paulo
*Robbie Buchanan (15 de novembro de 1957) é um tecladista, compositor, arranjador e produtor canadense. Suas composições e habilidades no piano lhe renderam créditos em álbuns de uma impressionante lista de artistas incluindo Bryan Adams Christina Aguilera Paul Anka Philip Bailey George Benson Clint Black Laura Branigan Christopher Cross Cher Neil Diamond, Celine Dion, Bryan Duncan, Aretha Franklin, Chaka Khan, Amy Grant, Raven-Symoné, Kim Hill, Roger Hodgson, Amy Holland, Whitney Houston, Enrique Iglesias, Julio Iglesias, James Ingram, The Isley Brothers, Jewel, Elton John, Phil Keaggy, Stacy Lattisaw, Crystal Lewis, Kenny Loggins, The Manhattan Transfer, Luis Miguel, Aaron Neville, Stevie Nicks, Kazumasa Oda, Dolly Parton, Sam Phillips, Diana Ross, Richie Sambora, Dusty Springfield, Ringo Starr, Steely Dan bem como em trilhas sonoras de filmes como Ghostbusters, Aladdin e outros.
FONTES DE PESQUISA:
Wikipédia (enciclopédia virtual da web)
Site "Planeta Rei" - As 100 Mais em 100 anos - 1985
Blog Edmilson Mendes
You Tube (plataforma de vídeos)
Blog Jobson Maia
Agradecimento especial a Mauro Motta, músico e produtor dos discos de Roberto Carlos que nos forneceu infomações preciosas dos bastidores das gravações do álbum de 1985
*Posição atual no Ranking de Discos de RC na página/blog: 17º melhor 
Crítica ao álbum: Roberto Carlos - o produto comercial (Aramis Millarch - Estado do Paraná - 22/12/1985)

   

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O QUANTO AS CANÇÕES DE RC REVELAM COMO ELE E SUAS MULHERES ERAM NOS SEUS 3 'CASAMENTOS'? (I PARTE- NICE)

O QUANTO AS CANÇÕES DE RC REVELAM COMO ELE E SUAS MULHERES ERAM NOS SEUS 3 'CASAMENTOS'? (II PARTE- MYRIAN RIOS)

AS DORES, PERDAS E REVEZES DE ROBERTO CARLOS - UM HOMEM QUE TEVE DE RECOMEÇAR VÁRIAS VEZES